Bela reportagem do Esporte Espetacular sobre a mais bela seleção brasileira que vi jogar e encantar o mundo. Aguardem um texto especial e mais reportagens sobre o Brasil dos gênios Leandro, Junior, Falcão, Cerezzo, Sócrates e Zico e do Mestre Telê Santana.
Vejam a matéria especial do EE aqui: Brasil de 82
terça-feira, 3 de julho de 2012
A mais bela Seleção Brasileira
quarta-feira, 27 de junho de 2012
La Bombonera
Mesmo vazia ela já mete medo, tamanha a inclinação dos
degraus das arquibancadas. Sentimos uma vertigem ao andar por ali, quase um
abismo. Imagine-a então plena, lotada, incendiada de milhares de apaixonados enlouquecidos
de azul e amarelo. O abismo multiplica-se pelas milhares de vozes que gritam
numa sintonia tão bela quanto brutal, como se fossem uma só voz. Essa voz,
multiplicada por dezenas de milhares, é o grito dominador e aterrador que
desaba como aqueles degraus ultra inclinados. Desaba sobre os adversários. Na
paixão da massa boquense e na razão arquitetônica de um estádio feito
exatamente para isso - para projetar-se sobre o campo e soterrar os inimigos
enquanto o time da casa ganha uma motivação e calor monumental.
La Bombonera é atirada de uma vez só sobre o rival, e logo o
asfixia. Paralisa. Os jogadores adversários não conseguem nem conversar, sufocados
e calados pela massa, pelo estádio, pela história desse templo mítico. O templo
que é fruto da maior paixão da terra das paixões mais fanáticas. Uma paixão
imortal que transforma antigos deuses do clube, como Maradona, Tevez, Palermo e
cia, em torcedores e forças especiais a tornar essa catedral ainda mais diabólica
na hora das grandes decisões. Por isso a Bombonera é alçapão, infernalmente
azul e amarelo. Mais que isso, caixão para os hipnotizados e subjugados rivais.
Hoje, é tudo isso que o Corinthians enfrentará. Estará preparado para a fornalha um time que espera os adversários e, por isso, será ainda mais pressionado na Bombonera? Ou Tite terá coragem de mudar um pouco o seu sistema?
sábado, 9 de junho de 2012
O gol é apenas um detalhe (de verdade)
Uma equipe de meninos, com espaço também para meninas, que não se preocupa em vencer, jogar muito bem, brilhar, vencer ou fazer gols? Um treinador que não é refém de resultados, nem pressiona suas crianças para fazer tudo para vencer? Um grupo de pais que não pressiona esse treinador ou seus filhos para ganhar? Essa utopia, os sorrisos e um dos mais verdadeiros sentimento de amor ao futebol já vistos neste mundo moderno que endeusa a competição existe num time de crianças da Catalunha, Espanha. Ali, num time que jamais havia feito um gol reside e resiste um futebol que se lembra que ainda é possível ser um jogo, uma brincadeira. Aliás, a melhor brincadeira do mundo. Ou alguém é capaz de inventar algo mais maravilhoso e divertido que uma bola de futebol real?????
Esses pequenos e pequenas catalãs ensinam ao mundo o caminho de um mundo melhor, mais saudável, bonito, gostoso. Um mundo igual a um grupo de amigos brincando de ser feliz com a bola nos pés, na canela, não importa se com habilidade ou não. Claro que essa meninada também gostaria de marcar gols e vencer, mas reparem como não há problema algum no rosto deles e delas, se eles continuarem a serem goleados. Porque no jogo mais importante, da felicidade, são esses derrotados os maiores vencedores.
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Segundos eternos
Por isso que poucos esportes são tão dramáticos e espetaculares como ele. Raras modalidades permitem mudanças no placar tão grandes e improváveis como o basquete. No 1o. jogo da decisão do Campeonato Espanhol, depois de ficar 17 pontos atrás, o Barcelona reagiu contra seu maior rival, o Real Madrid, mas a 10 segundos do final do jogo perdia por 2 pontos. Eis que a bola está nas mãos do brasileiro Marcelinho Huertas e ele, que não fez nenhum pontinho nos 17 minutos que esteve em quadra, inventa esse arremesso tão sensacional quanto mágico e dá a vitória ao Barça.
Marcelinho é desde já uma lenda, eterna, do basquete barcelonista.
Só o esporte permite que um instante ou alguns segundos criem um herói inesquecível.
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Pequena Gigante
1m61, a mais baixa na lista das melhores do mundo. Baixinha
e incansável trabalhadora como uma legítima formiguinha. “Ela está sempre
pronta para treinar mais, e quer treinar mais, tem uma disposição incomum para
treinar”, diz o seu treinador. A tcheca Dominika Cibulkova sabe que precisa
compensar seu tamanho muito distante das moçoilas altas que dominam o esporte.
As marmanjonas e suas grandes envergaduras e ângulos mais agudos com que podem
bater na bolinha, cobrem bem tanto a horizontal como a vertical das bolas adversárias.
Cibulkova não tem essa vantagem mas, já que seus braços não podem voar, suas
pernas podem. Coxas e panturrilhas titânicas forjadas em horas de trabalho
pesado fazem ela deslizar em velocidade supersônica por todos os cantos. Chega
em todas as bolas com suas perninhas fortíssimas. E há ainda sua garra de
trator arando a terra para a colheita. Só contasse com sua raça e esta
guerreira já seria um páreo duríssimo para qualquer uma, mas ela ainda conta
com a dádiva de ter um dom: é também técnica, capaz de colocar os mais
venenosos e belos efeitos na sua raquete e bolinha. Assim ela não deu chances
para a número 1 do mundo, a bielorrussa Vitória Azarenko no domingo pela manhã.
Um domingo que amanheceu com a beleza de sai determinação, velocidade e técnica
incomum. E avançou na manhã brasileira com um final maravilhoso como seu
sorriso vencedor. O sorriso que só deu após superar os traumas de várias
derrotas para a número 1 meses antes. O sorriso da menor melhor tenista do
mundo.
*Dominika é tão corajosa que faz diferente da grande maioria
das tenistas do leste europeu. Não deixou seu país para encontrar mais apoio e
investimentos nos EUA. Ela segue vivendo, treinando e lutando em seu próprio
país, na cidade de Bratislava.
sexta-feira, 1 de junho de 2012
Um pouco mais de alma
Quando a batalha aperta, é preciso convocar os melhores, na
bola e coração. O momento é decisivo, o Santos corre sérios riscos de dar adeus
à Libertadores contra o impenetrável Velez Sarsfield argentino. Muricy olha então para o banco e é fulminado com os olhos faiscantes
do velho guerreiro jamais cansado de guerra.
O treinador não vacila e saca o
hábil mas escondido – guerra não é seu forte – Juan. Não é uma simples
substituição mas a redenção desse verdadeiro coquetel molotov de técnica
com toneladas de garra. Mais que isso, o viking habilidoso que entra é o
resgate também do quase extinto amor à camisa e da alma perdida dessa grande porção de jogadores do futebol de hoje que não deixam a pele e o sangue em campo. O
redentor e guardião do futebol que aprendemos a amar quando crianças chama-se
Léo. Ele entra correndo feito um louco e semeando seus olhos esbugalhados de
quem é raça pura; a beleza pura de quem encara sua profissão com a mesma
vontade e sentimento do garoto que encara sua primeira final de campeonato da
escola como o jogo da vida. Sai o mero profissional e entra o homem
apaixonado, alucinado em busca do resultado que seu time de tantos anos precisa
alcançar.
Não é um acaso quando uma batalha como essa é decidida pelo
amor. Se o gênio Neymar ou o craque Ganso não estão decidindo, chamem o
guerreiro. Chamar é pouco, convoquem-no! A beleza dessa vida é que o amor e a
alma embalados por uma raça monumental ainda são decisivos.
O significado da assistência de Léo para Allan Kardec
recolocar o Santos na briga foi talvez o símbolo mais belo do futebol deste
ano. Do futebol que sempre deveria se jogado assim, com essa paixão incandescente.
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A eternidade do instante,
Heróis e Heróínas
sexta-feira, 11 de maio de 2012
A última fortaleza do amor no futebol mundial
Lembram dos rostos sem expressão dos jogadores da seleção brasileira após a eliminação na Copa de 2010? Lembram da frieza dos jogadores do seu time de coração e das desculpas esfarrapadas após mais um fracasso? Lembram da festa armada por Ronaldinho Gaúcho um dia após o baile que a seleção tomou de Zidane na Copa de 2006? A mensagem, espírito e coração do Athletic de Bilbao é exatamente oposta. O clube basco (um verdadeiro outro país, em alma, dentro da Espanha) deu uma belíssima lição de amor e dor na última terça-feira. Seus jogadores, todos de origem basca, todos criados no clube desde pequenos, não conseguiam parar de chorar após a dura e contudente derrota na final da Liga Europa. Talvez esse grupo seja um dos últimos do planeta a verdadeiramente amarem uma camisa e um povo, como mostrou as cores da camisa que eles usaram na decisão, com as cores do País Basco. Que esta dura derrota não prejudique o belíssimo e corajoso trabalho implantado pelo treinador argentino Marcelo "Loco" Bielsa no clube, um trabalho baseado no toque de bola e no ataque sem medo. Em tempos tão mercenários como esses, nunca a locura do futebol jogado com arte e amor foi tão necessária.
O vídeo com a dor e amor dos homens do Bilbao você vê aqui.
O vídeo com a dor e amor dos homens do Bilbao você vê aqui.
Genial
Ele andava meio ofuscado pela genialidade e gols em série de Neymar, mas o mais elegante dos jogadores brasileiros está voltando a dar suas pinceladas magistrais. Não há o que dizer. A arte, quando em estado máximo, nos tira as palavras. Gol de letra, pintada com bico de pena, de Ganso.
quinta-feira, 26 de abril de 2012
O anjo de Marselha
Não
era só um goleiro.
Era
o guardião final das esperanças da Seleção Brasileira de voltar a ser campeã do
mundo, após duas décadas de fracassos.
Homem
exemplar. Controlado, sereno. Caráter elevado, imune a ataques pessoais. Cláudio
Taffarel, um dos goleiros mais atacados pela
crítica em sua passagem pela camisa 1 do país, suportava tudo calado, sem
brigas. O coração era bom demais para pensar em revanche.
Respondia
no campo. Porque ele pode ter falhado em sua carreira, em clássicos entre seu
Inter e o Grêmio, e em jogos da Seleção. Mas quando se tratava da tarefa máxima
de qualquer atleta, era inatacável: foi sempre goleiro de Copa do Mundo.
Assim
foi nas Copas de 1990, 94 e 98, com um fantástico saldo de um título mundial,
um vice e aquela eliminação triste em sua primeira Copa, em que não teve a
mínima culpa na equipe montada por Sebastião Lazaroni. E, ainda em 1990, abre
as portas do futebol europeu, fato raríssimo para um goleiro brasileiro, ao ser
contratado pelo Parma italiano.
Estados
Unidos, 1994. Depois de 24 anos sem levantar a Copa do Mundo, veio o tetra
comandado por Romário. Verdadeiro assassino da grande área, no melhor momento
de sua carreira, o Baixinho foi o grande artífice da conquista que redimiu o
futebol brasileiro (não para os amantes do esporte, pois o título veio com
aquele futebolzinho “eficiente”, mas chato e feio do técnico Parreira). Só que
Romário passou em branco na final, contra a Itália. Não conseguiu dar uma
derradeira e decisiva estocada.
O
Brasil só ganharia essa Copa nos pênaltis. Tá, o artilheiro converteu o seu,
mas a missão mais dura ficou nas mãos de Taffarel. Aquele que fora taxado de
frangueiro por muitos (resultado de falhas como as da Copa América de 93,
contra o Uruguai, ou nas eliminatórias para a Copa de 94, frente à Bolívia). E
que, para muitos, não havia sido um goleiro provado na Copa dos Estados Unidos,
graças à fragilidade dos adversários e à segurança da impecável zaga formada
por Aldair e Márcio Santos.
Taffarel
não falhou quando mais se precisou dele. Defendeu um pênalti na disputa final contra
a Itália. Foi o último a brilhar no grupo que trouxe o tetra. Para muitos foi o
herói daquela decisão. Mas ele nunca quis isso. Quando Baggio partiu para bater
o quinto e último pênalti da Itália, Taffarel não queria defender e tornar-se o
grande herói. Preferia que o italiano chutasse pra fora. Por quê? “Se eu
defendesse mais um pênalti, talvez fosse considerado o único herói daquela
história. Como Baggio mandou a bola por cima do travessão, o heroísmo foi de
todos”, disse o goleiro a um programa da Rede Globo exibido em 2004,
comemorando os dez anos do Tetra.
1998.
Quatro anos depois, ele joga na França sua terceira Copa do Mundo seguida,
façanha inédita para um goleiro brasileiro. E protagoniza o grande momento da
Seleção na Copa. A dramática semifinal contra a Holanda. No tempo normal faz
milagres em chutes à queima-roupa de Kluivert e Bergkamp. Depois, mais uma vez,
os pênaltis. E mais uma vez, o brilho de Taffarel. Defende duas cobranças e,
vibrando muito, grita na noite da bela Marselha: “Não fui eu. Foi Deus”.
Foi
você, Taffarel, protetor humilde da nossa grande área.
2003.
De repente, o fim. Só mesmo um homem sereno, de grandes convicções e avesso aos
holofotes pode encerrar a carreira como Taffarel. Ele está em uma tranqüila
estrada italiana, sozinho em seu carro, dirigindo para o treino de seu clube, o
Parma, quando resolve voltar para trás, para sua casa na Itália. Telefona para
o clube e avisa que está abandonando o futebol. Pressentimento ? Destino? Não,
apenas resolve, aos 37 anos, que já basta. “Não quero partida de despedida,
nada disso. Não creio que seja importante. A despedida que tive foi um jantar
que me fizeram meus amigos de Parma. Isso é o que levarei do futebol, as
amizades eu fiz no mundo todo”, declarou Taffarel poucos dias depois.
Assim
terminou a carreira do goleiro que conquistou o mundo com seu arrojo e
segurança na hora mais importante, a Copa do Mundo. Pouco se falou na imprensa
de sua despedida dos campos. Raras colunas e reportagens especiais foram
escritas. Talvez porque não fosse figura de grandes declarações e polêmicas.
Talvez
porque realmente fosse diferente, como acreditou numa noite mágica da Riviera
francesa.
Faltaram
então palavras para explicar um goleiro e homem que tinha asas.
(Publicado em meu último livro, Heróis do Esporte, Heróis da Vida)
sexta-feira, 13 de abril de 2012
100 anos de molecagens
Conheci a dor no futebol e na vida (na vida de um garoto do
passado o futebol era igual à vida), com a alegria dos Meninos da Vila
originais. Meu São Paulo de Valdir Perez, Getúlio, Dario Pereyra, Serginho, Zé
Sérgio e cia, que ensaiava uma fantástica equipe para os anos 80, acabou
perdendo o Paulistão de 78 para o renovado Santos de Pita, Nilton Batata, Juari
e João Paulo. Naqueles tempos o Paulistão era um super campeonato empolgante em
que os clubes grandes davam tudo (não se dividia o Estadual com a Libertadores
e Copa do Brasil), enchiam os estádios (qualquer clássico tinha 100 mil pessoas
no Morumbi) e ainda penavam contra fortes e aguerridas equipes do interior.
Lembro até hoje da leveza, habilidade e velocidade daquele ataque infernal
santista, armado pelo meia Pita para as arrancadas supersônicas de Nilton
Batata e João Paulo pelas pontas (sim, ainda existiam pontas, e eles partiam
pra cima e sabiam cruzar e passar na medida além de driblar...), até a conclusão mortal do ligeiro e
sempre bem colocado Juari. Eram dois timaços e a juventude santista acabou
levando a melhor na melhor de 3 jogos, o que mostrou que apostar na molecada
era um ótimo investimento.
Hoje, depois de mais duas gerações vencedoras de endiabrados
Meninos da Vila (a 2ª teve Robinho, Diego e Elano; a 3ª, Neymar e Ganso), e do
sucesso das canteras do Barcelona, só mesmo os nossos dirigentes brasileiros cegos
(ou metidos em armações e comissões com empresários...) para não perceberem que
a arte perdida do futebol brasileiro só pode voltar a surgir apostando-se na
molecada.
Hoje, temos Neymar e só. Sorte dos alvinegros praianos, que
ainda podem vê-lo em ação, e azar da maioria dos outros clubes e de nossa
seleção burocrática, onde Neymar não pode fazer milagres sozinho.
Parabéns aos 100 anos de um clube que sempre investiu na
arte desde quase o berço, dos meninos das areias de suas praias.
PS - Graças que pelo menos um dos Meninos da Vila virou Tricolor. Mais que isso, um verdadeiro maestro: Pita. Foi dos pés geniais dele que saíram muitos dos gols e títulos do talvez São Paulo mais bonito da história, a máquina de Pita, Silas, Muller, Careca e Sydney, campeões paulistas e brasileiro na metade dos anos 80.
* Assistam ao vídeo também, tricolores, para ver golaços de um time que não foi campeão, mas já brilhava.
O homem que dava presentes
Não
sabem de onde veio o intruso. Apareceu de surpresa no campo de treino
do clube. Quando iam expulsá-lo, disse com firmeza: “Eu dou gols”.
O velho treinador percebeu a verdade e frieza dos seus olhos e lhe deu a camisa que há muito guardava. A 10.
Uma hora depois os jogadores e alguns torcedores mal podiam falar. Incrédulos, nunca haviam visto tantos gols em um treino.
O homem frio não tem amigos nem família. Onde chega, instala-se em um pequeno quarto de pensão. Seu dia-a-dia é de silêncio e vazio, não fosse um detalhe. Não fosse a única razão que ainda o faz respirar. Um objeto, uma arte. A bola e sua capacidade para colocá-la onde quer. Um “onde” solidário: sempre o pé ou cabeça de um companheiro. Cada passe ou lançamento, meio gol. Doces presentes do homem que não sorri. Entregas precisas do “carteiro do gol”, como lhe apelidou um veterano jornalista de mais uma cidadezinha perdida por onde ele vaga.
O homem que oferece gols logo garante vitórias, muitas. Logo vira ídolo, mas nada o faz extravasar. Nada de vibrar com os parceiros ou tirar uma dos rivais. Nenhum mínimo gesto de comemoração, como se fosse um mero carrasco a cumprir sua obrigação e sina.
Não é sina. É promessa.
Terminada a decisão do campeonato – campeão, claro – sacou aquele par de chuteiras mortais, pediu de lembrança o uniforme do clube e deu sua segunda declaração em toda a temporada: “Adeus, amigos”.
Por que vai embora, maestro? Por que não fica?, atreveu-se a perguntar o menino que desandou a fazer gols graças ao 10 brilhante.
“Minha esposa me pediu, antes de morrer: Faça a alegria das torcidas. Semeie gols, meu querido”.
Olhou para o garoto, deu um leve aceno de cabeça honroso e partiu. Porque nada era maior que seu amor pela esposa falecida. Nem o futebol. Poucos dias depois, o garoto que aprendeu a fazer gols com o 10 ganhou de presente do velho jornalista a foto da matéria que não teve coragem de escrever. O 10 em seu quarto modesto de pensão. Dezenas de camisas de futebol estendidas na cama e um homem ajoelhado ao lado delas, de frente à foto de uma bela mulher.
“Sabe o que ele disse enquanto rezava, garoto?”
O menino, vidrado, arrepiou-se todo.
“Disse exatamente isso: Tem mais uma torcida alegre hoje, moça. Já cumpri minha missão, certinho como você me pediu. E sabe que nunca vi um cara fazer gols tão bonitos com meus passes?! É um garoto. Podia ser nosso filho, ele tem a arte do pai e a sua alegria e beleza nos olhos. Esse tem amor e futebol nos pés, querida. Espero que nunca mude seu coração de goleador apaixonado.”
“Não mudarei, mestre, não mudarei.”
Nascia então outra lenda, a do menino que fazia gols como se estivesse fazendo amor.
O velho treinador percebeu a verdade e frieza dos seus olhos e lhe deu a camisa que há muito guardava. A 10.
Uma hora depois os jogadores e alguns torcedores mal podiam falar. Incrédulos, nunca haviam visto tantos gols em um treino.
O homem frio não tem amigos nem família. Onde chega, instala-se em um pequeno quarto de pensão. Seu dia-a-dia é de silêncio e vazio, não fosse um detalhe. Não fosse a única razão que ainda o faz respirar. Um objeto, uma arte. A bola e sua capacidade para colocá-la onde quer. Um “onde” solidário: sempre o pé ou cabeça de um companheiro. Cada passe ou lançamento, meio gol. Doces presentes do homem que não sorri. Entregas precisas do “carteiro do gol”, como lhe apelidou um veterano jornalista de mais uma cidadezinha perdida por onde ele vaga.
O homem que oferece gols logo garante vitórias, muitas. Logo vira ídolo, mas nada o faz extravasar. Nada de vibrar com os parceiros ou tirar uma dos rivais. Nenhum mínimo gesto de comemoração, como se fosse um mero carrasco a cumprir sua obrigação e sina.
Não é sina. É promessa.
Terminada a decisão do campeonato – campeão, claro – sacou aquele par de chuteiras mortais, pediu de lembrança o uniforme do clube e deu sua segunda declaração em toda a temporada: “Adeus, amigos”.
Por que vai embora, maestro? Por que não fica?, atreveu-se a perguntar o menino que desandou a fazer gols graças ao 10 brilhante.
“Minha esposa me pediu, antes de morrer: Faça a alegria das torcidas. Semeie gols, meu querido”.
Olhou para o garoto, deu um leve aceno de cabeça honroso e partiu. Porque nada era maior que seu amor pela esposa falecida. Nem o futebol. Poucos dias depois, o garoto que aprendeu a fazer gols com o 10 ganhou de presente do velho jornalista a foto da matéria que não teve coragem de escrever. O 10 em seu quarto modesto de pensão. Dezenas de camisas de futebol estendidas na cama e um homem ajoelhado ao lado delas, de frente à foto de uma bela mulher.
“Sabe o que ele disse enquanto rezava, garoto?”
O menino, vidrado, arrepiou-se todo.
“Disse exatamente isso: Tem mais uma torcida alegre hoje, moça. Já cumpri minha missão, certinho como você me pediu. E sabe que nunca vi um cara fazer gols tão bonitos com meus passes?! É um garoto. Podia ser nosso filho, ele tem a arte do pai e a sua alegria e beleza nos olhos. Esse tem amor e futebol nos pés, querida. Espero que nunca mude seu coração de goleador apaixonado.”
“Não mudarei, mestre, não mudarei.”
Nascia então outra lenda, a do menino que fazia gols como se estivesse fazendo amor.
Não eram apenas meninos
Pequeno
mas valente, no saudoso mundo dos campinhos de terra da infância ele
descobriu o poder do grito. Aquele mais belo, do fundo do peito, que só
os meninos com muito amor à bola e à batalha conseguem emitir. O grito
que anima. O brado urgente surgiu em sua vida após
não suportar a cabeça baixa e falta de reação dos colegas durante a
final do campeonato do bairro; e logo no dia em que seu pai conseguiu
uma liberação do trabalho para ver o filho jogar pela primeira vez.
Certos momentos são decisivos. Mudam destinos e vidas. Separam gente comum, que atravessará a vida sem causar impacto, das raras classes de pessoas marcantes, inspiradoras.
35 minutos do segundo tempo é um momento já longe demais, especialmente em uma decisão. Por isso os companheiros de Diego abaixaram a cabeça ao verem a bola no fundo do gol que defendiam. Estavam derrotados.
Eram apenas meninos. Não possuíam ainda aquela força misteriosa que gente grande tira de não se sabe onde para dar a volta por cima.
Só que não eram meninos comuns. Não eram apenas companheiros a defender uma camisa.
Eram amigos. Amigos com uma intensidade e promessa que os adultos um dia esquecem: “amigos para sempre”. Amigos forjados nas conversas à beira da calçada, nos sonhos e paixões compartilhadas diariamente nesse tempo mágico em que ainda temos tempo para quem realmente importa: a infância.
Amigos dessa coisa imensa que é um time de futebol criado por um grupo de garotos pobres. Um time que não é apenas um conjunto de camisas compradas numa loja qualquer, mas sim um manto trabalhado com afeto por suas mães. Mães que encontraram tempo - depois de trabalhar o dia todo, cuidar da janta e botar seus meninos pra dormir e sonhar - para costurarem um símbolo, um número e o nome de seus filhos nessas camisas amadas.
Os nomes nas camisas, fato raro naqueles tempos, foi a primeira coisa que Diego olhou. Os nomes de seus irmãos. Nomes encurvados junto daquelas costas e cabeças abaixadas. Foi então que lembrou das duas imagens mais bonitas que vira na vida: a primeira, da mãe dormindo sorrindo sentada na cadeira, linha de costura e camisa agarrada na mão cheia de calos e carinho; linha de costura e agulha espetada na última letra de seu nome, um “O” de Diego. A segunda imagem foi o rosto iluminado e orgulhoso de seus amigos quando todos se encontraram pela primeira vez, para o primeiro jogo em que puderam defender as camisas praticamente feitas por suas mães.
Por todos esses sentimentos e lembranças, Diego pegou a bola do fundo do gol, levantou seu goleiro e então gritou.
Gritou com cada um.
Não foram gritos de acusação ou raiva, e sim de dor, amor e vontade. Do verbo vital que habita a alma dos lutadores e verdadeiros capitães: o verbo animar.
Foram gritos de família, aquela inesquecível que é forjada nos campinhos da vida e da infância.
Foram gritos acompanhados de veias ressaltadas em cada músculo da face, braços, peito e corpo todo.
Foram gritos que semearam, com todas as forças, um sentimento poderoso chamado acreditar.
Depois daquilo, os menos de dez minutos viraram uma vida.
Viraram uma daquelas raras recordações que jamais serão apagadas naqueles meninos heroicos.
Os gritos da virada; cheios de terra, sangue e da alegria mais bela que aqueles meninos, seus pais e mães poderiam sentir.
A alegria de vencer com o mais puro e verdadeiro amor à camisa.
Certos momentos são decisivos. Mudam destinos e vidas. Separam gente comum, que atravessará a vida sem causar impacto, das raras classes de pessoas marcantes, inspiradoras.
35 minutos do segundo tempo é um momento já longe demais, especialmente em uma decisão. Por isso os companheiros de Diego abaixaram a cabeça ao verem a bola no fundo do gol que defendiam. Estavam derrotados.
Eram apenas meninos. Não possuíam ainda aquela força misteriosa que gente grande tira de não se sabe onde para dar a volta por cima.
Só que não eram meninos comuns. Não eram apenas companheiros a defender uma camisa.
Eram amigos. Amigos com uma intensidade e promessa que os adultos um dia esquecem: “amigos para sempre”. Amigos forjados nas conversas à beira da calçada, nos sonhos e paixões compartilhadas diariamente nesse tempo mágico em que ainda temos tempo para quem realmente importa: a infância.
Amigos dessa coisa imensa que é um time de futebol criado por um grupo de garotos pobres. Um time que não é apenas um conjunto de camisas compradas numa loja qualquer, mas sim um manto trabalhado com afeto por suas mães. Mães que encontraram tempo - depois de trabalhar o dia todo, cuidar da janta e botar seus meninos pra dormir e sonhar - para costurarem um símbolo, um número e o nome de seus filhos nessas camisas amadas.
Os nomes nas camisas, fato raro naqueles tempos, foi a primeira coisa que Diego olhou. Os nomes de seus irmãos. Nomes encurvados junto daquelas costas e cabeças abaixadas. Foi então que lembrou das duas imagens mais bonitas que vira na vida: a primeira, da mãe dormindo sorrindo sentada na cadeira, linha de costura e camisa agarrada na mão cheia de calos e carinho; linha de costura e agulha espetada na última letra de seu nome, um “O” de Diego. A segunda imagem foi o rosto iluminado e orgulhoso de seus amigos quando todos se encontraram pela primeira vez, para o primeiro jogo em que puderam defender as camisas praticamente feitas por suas mães.
Por todos esses sentimentos e lembranças, Diego pegou a bola do fundo do gol, levantou seu goleiro e então gritou.
Gritou com cada um.
Não foram gritos de acusação ou raiva, e sim de dor, amor e vontade. Do verbo vital que habita a alma dos lutadores e verdadeiros capitães: o verbo animar.
Foram gritos de família, aquela inesquecível que é forjada nos campinhos da vida e da infância.
Foram gritos acompanhados de veias ressaltadas em cada músculo da face, braços, peito e corpo todo.
Foram gritos que semearam, com todas as forças, um sentimento poderoso chamado acreditar.
Depois daquilo, os menos de dez minutos viraram uma vida.
Viraram uma daquelas raras recordações que jamais serão apagadas naqueles meninos heroicos.
Os gritos da virada; cheios de terra, sangue e da alegria mais bela que aqueles meninos, seus pais e mães poderiam sentir.
A alegria de vencer com o mais puro e verdadeiro amor à camisa.
O santo
A bola lançada na ponta é decisiva. Caso a domine, poderá servir seu
companheiro sozinho na área. A torcida adivinha, fica de pé. Ele dispara rápido mesmo sendo
alto e forte, na verdade um touro. A imagem lembra o caminhão furioso na
contramão, pisando fundo, do clip da porrada Enter Sandman, do
Metallica. O adversário chega, porém, ao mesmo tempo.
Voltando no tempo a uma disputa anterior, ele foi derrubado por um pontapé sutil que o juiz não percebeu. Acelerando um pouco o novo duelo, vemos o mesmo rival caído fora do campo, jogado no alambrado rente ao campo. O gol está próximo...
Não pensem que ele derrubou o beque deslealmente. Jamais faria isso. Apenas usou o corpo. “Atlas não carregou o mundo nas costas? O mínimo que um meia ofensivo deve fazer é desviar o mundo com os ombros”, disse O Santo após o jogo.
Mais que mensagens, ele deixou imagens, gestos, ações. Falava pouco. Mas quando cedia, finalmente, uma rara entrevista, não eram meros depoimentos. Era sabedoria. Respondia em forma de aforismos. Sentenças breves, decisivas como uma jogada mortal.
- Por que não reclama das faltas?
- Homens não reclamam. Apenas se levantam.
- Por que não revida pontapés?
- Vingança é para os fracos. Pior, vingança atrai vingança.
Assim segue O Santo. Assim se fortalece. Não desperdiça energia se lamentando. O que faz é partir pra cima na próxima jogada com vigor, com a sabedoria dos durões do velho oeste. Encara de novo o agressor e o pulveriza aplicando-lhe a implacável equação da arte + força. Dribla-o e derruba-o. Antes disso, projeta sua figura assustadora sobre o adversário. Nada é mais belo que mostrar a verdade: eu passarei.
Voltando no tempo a uma disputa anterior, ele foi derrubado por um pontapé sutil que o juiz não percebeu. Acelerando um pouco o novo duelo, vemos o mesmo rival caído fora do campo, jogado no alambrado rente ao campo. O gol está próximo...
Não pensem que ele derrubou o beque deslealmente. Jamais faria isso. Apenas usou o corpo. “Atlas não carregou o mundo nas costas? O mínimo que um meia ofensivo deve fazer é desviar o mundo com os ombros”, disse O Santo após o jogo.
Mais que mensagens, ele deixou imagens, gestos, ações. Falava pouco. Mas quando cedia, finalmente, uma rara entrevista, não eram meros depoimentos. Era sabedoria. Respondia em forma de aforismos. Sentenças breves, decisivas como uma jogada mortal.
- Por que não reclama das faltas?
- Homens não reclamam. Apenas se levantam.
- Por que não revida pontapés?
- Vingança é para os fracos. Pior, vingança atrai vingança.
Assim segue O Santo. Assim se fortalece. Não desperdiça energia se lamentando. O que faz é partir pra cima na próxima jogada com vigor, com a sabedoria dos durões do velho oeste. Encara de novo o agressor e o pulveriza aplicando-lhe a implacável equação da arte + força. Dribla-o e derruba-o. Antes disso, projeta sua figura assustadora sobre o adversário. Nada é mais belo que mostrar a verdade: eu passarei.
Nada é mais violento que o agressor ser nocauteado limpamente, o craque dizendo
com os pés, corpo e alma: Não me derrubarás. Ao contrário...
Lá vai O Santo. Já foi, partindo feito um rio caudaloso, imparável, em direção
à meta adversária. Os adversários o temem cada vez mais.
Quem não teme um Santo Guerreiro? Quem não teme um Homem que derruba espadas
com o peito e ombros?
Quem não teme um meia forte, veloz, vertical, que avança sobre as hostes
inimigas como um cavaleiro medieval de lança a cavalo?
Lá foi O Santo. Só ele mesmo para transformar sua guerra santa em um grito de goooolll!
Lá foi O Santo. Só ele mesmo para transformar sua guerra santa em um grito de goooolll!
terça-feira, 20 de março de 2012
Messi - O maior de todos
Não foi apenas o gol perfeito. Foi o símbolo perfeito. Ao fazer o histórico tento que o tornou o maior artilheiro da história do Barcelona, Lionel Messi usou sua exclusiva marca-máquina mortífera de balançar as redes: a velocidade, visão de jogo (para se colocar livre vindo de trás de surpresa), a ilusão (de onde ele surgiu???, perguntam-se os defensores) e o toque tão simples quanto belo por baixa da bola para encobrir o goleiro. Nada mais perfeito que entrar para a história do Barça e do esporte mundial com um maravilhosamente simples e sutil toque por cobertura. A sutileza do gênio. E reparem ainda na humildade do homem, que em vez de explodir sozinho, apenas sorriu e esperou o abraço dos companheiros.
Vai, Messi, mais um recorde quebrado para o maior atleta-artista do século XXI.
sexta-feira, 9 de março de 2012
Messi e Neymar - As crianças da revolução
A melhor explicação para
as inexplicáveis jogadas e gols espetaculares que Messi (se cuida, Pelé!) e
Neymar (legítimo sucessor de Garrincha) fizeram 4ª feira veio de um velho
artista da bola, o francês Eric Cantona, um dos maiores ídolos da história do
Manchester United. Disse Cantona sobre Messi e suas palavras cabem direitinho em
Neymar: “Messi tem um entusiasmo quase infantil pelo jogo. Os grandes jogadores
são os que têm a espontaneidade da criança.”
Quem vê Messi e
Neymar inventar dribles e toques maravilhosos na bola, tanto nas arrancadas
supersônicas como na hora de finalizar, percebe que eles são um raro caso de
supercraques com alma de moleques brincando de jogar bola na rua, quadra de
futsal ou praia. E quem os conhece no dia-a-dia dos clubes garante que eles são
os mais dedicados aos treinamentos porque simplesmente amam não só o futebol,
mas um conceito-paixão que poucos preservam no mundo adulto: “o jogar bola”. É
por isso que nas raras vezes em que a dupla não joga, eles aparecem na
arquibancada torcendo por seus companheiros ou aparecem em qualquer canto em
que há bom futebol.
A única diferença
entre os dois é a irreverência e extroversão de Neymar fora dos campos e a
timidez e jeito recluso do argentino quando não está jogando. E o menino de Barcelona
também não faz milhares de anúncios e apresentações em eventos e baladas. E,
dentro de campo, falta ainda a Neymar um teste mais duro, a inquestionável maior
dificuldade dos jogos na Europa, onde estão a grande maioria dos melhores
jogadores do planeta. Certo que ele arrebenta num campeonato duríssimo como a
Libertadores, mas ainda precisa se provar no grande palco europeu.Por outro lado, antes marrento, firuleiro e cai-cai, o santista amadureceu demais dentro e fora de campo. O dedo aí é muito de Muricy.
De resto, eles exalam
a verdadeira alegria com coragem de jogar o futebol como se deve: com arte. Uma
arte que eles transcendem a cada novo show. E que shows! Shows que vêm
revolucionando o futebol feio – de 300 volantes, muita marcação e bola na área
- comum da maioria dos clubes do planeta. O que foi a exibição de Messi contra
o Bayer Leverkussen? O que foram aquelas arrancadas e dribles de Neymar em dois
gols de placa executados num mesmo jogo? Como bem pediu o editor do Lance, a
diretoria do Santos deveria encomendar duas placas de gol de placa para o quase
gênio e colocar na Vila.
PS – Messi
está sendo o responsável maior por resgatar uma arte que andava meio
esquecida no futebol mundial: o gol por cobertura. Repararam em quantos gols
ele faz dessa forma, no que vem sendo seguido por companheiros do Barça (Xavi,
Sanchez e Iniesta fizeram gols assm há pouco) e por Neymar? Repararam que
Neymar, que já tinha um excelente chute mortal rasteiro na cara do gol, agora
também vem matando os goleiros com toques sutis por cobertura?
PS 2 - Não postei os últimos golaços da dupla, mas quem não viu não deve gostar de futebol, pois já deveria ter visto!!!!!
segunda-feira, 5 de março de 2012
A arte de fazer gols bonitos, mesmo sem Messi
O segundo tento é o típico golaço. Keita, jogador muito querido por Guardiola por sempre fazer o que é pedido dele e por seu altruísmo de sempre se doar pelos companheiros, na ausência de Messi, surgiu como um verdadeiro meia-atacante e colocou a bola no ângulo com um chute magistral. Chute e visão, pois reparem como ele levanta a cabeça antes de pintar o golaço.
Finalmente, o gol da misericórdia nasce dos pés desse monstro chamado Iniesta, que descobre Xavi enfiando um passe sensacional. Essa a característica dos grandes meias como Iniesta: ele não passa ou lança simplesmente, ele descobre seus companheiros com presentes, colocando-os na cara do gol. A conclusão não é menos bela e mágica. Onde muitos tentariam driblar o goleiro ou se afobariam na cara do goleiro, Xavi dá um leve toque cobrindo o arqueiro. Um toque chamado de "vaselina" pelos espanhóis. Vaselina, palavra justa, malandra, suave, fiel ao jeito sutil de um craque para definir uma jogada. Bem diferente desta palavra-conceito é a porrada ou e velocidade burra sem precisão de muitos jogadores nessa situação.
sexta-feira, 2 de março de 2012
Zétti - Goleiro e ser humano fantástico
O que dizer de um cara que era tão querido por todos que a FIFA o perdoou rapidinho do famoso chá de coca que tomou na Bolívia antes de um jogo da seleção? Imagino o cara responsável por dar o veredito final nesse processo de doping? "Caramba, é o Zétti, só pode ser inocente!"
Zétti foi ainda o entrevistado com quem passei mais tempo em minha carreira de jornalista. Minha fira já tinha virado, duas horas de papo e ele seguia falando, me atendendo como se eu fosse da Rede Globo, com a maior atenção do mundo. A entrevista só acabou quando as luzes do CT da Barrra Funda começaram a ser apagadas e eu falei, "pô, Zétti, tá bom, valeu demais, já posso até escrever um livro sobre você".
Valeu ao Matias por resgatar essas defesas históricas, realizadas no começo da decisão da segunda Libertadores que vencemos. Depois delas o São Paulo ficou mais tranquilo e massacrou os chilenos, na até hoje maior goleada em uma final de Libertadores.
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quinta-feira, 1 de março de 2012
Antonio Carollo – Por que devemos tanto ao Mickey brasileiro
Filadélfia,
EUA, anos 70. Mickey é o veterano treinador que percebe o potencial de um
trabalhador braçal, um jovem ignorante que é, porém, um colosso de coração e
capacidade de lutar. É em seu humilde templo, um velho ginásio na parte pobre
da cidade, que o homem de cabeça branca se esforça para extrair campeões dos
mais brutos diamantes. E não há nada mais bruto em seu pequeno e judiado gym
que o pacato leão de chácara, pedreiro, açougueiro, o faz tudo Balboa. Com uma
dedicação, olho e atenção só encontradas em treinadores que são mestres, Mickey
vai transformar um mero enfiador de porradas no maior peso pesado do boxe mundial. Porque Mickey
conhece todas as artes da nobre arte. Porque Mickey sabe quão longa e dura é a
estrada. Porque Mickey não troca seu velho ginásio escondido no segundo andar
de um predinho surrado por nenhum espaço maior, mais arejado e moderno.
É ali,
após vencer a penitência inicial e simbólica da longa escadaria que dá acesso
ao ginásio e ringue, que os sonhadores mais miseráveis sonham glórias só
possíveis na imaginação de crianças ultra-inocentes.
Foi em
lugares similares, como o ringue do Ibirapuera, em São Paulo, que o brasileiro Antonio Carollo construiu
sua carreira. A carreira que foi sua vida. Mais vitorioso treinador da história
do boxe brasileiro, Carollo foi o homem que treinou o único medalhista olímpico
que o Brasil já teve, Servílio de Oliveira (México, 1968) e ainda o guia
responsável por nosso primeiro campeão mundial, o mesmo Servílio. Carollo
esteve também em mais 4 olimpíadas e treinou um certo Acelino de Freitas, o
Popó, o talvez melhor ou mais vencedor boxeador que o Brasil já teve, mais de
uma vez campeão mundial.
Carollo
partiu aos 87 anos, este mês, e a repercussão na mídia resumiu-se a breves
notas em alguns jornais e sites. Saber mais sobre ele só foi possível
pesquisando no youtube, em especial numa velha e bela reportagem do programa
Viver e Conviver, e numa homenagem recente de uma produtora de vídeo. A grande
mídia, que dá espaços enormes para as baladas, sacanagens, cortes de cabelo
mudados e até estilo (na verdade, falta de...) dos jogadores de futebol, não
foi capaz de fazer uma reportagem à altura de um homem que deu sua vida ao
esporte e sociedade brasileira.
Sociedade, sim, pois Antonio Carollo, além de
treinador, foi tutor, amigo e pai de muitos jovens que tomaram um rumo na vida,
ou tornaram-se cidadãos, graças aos seus ensinamentos e sentimentos.
Sentimentos
que exalavam de Carollo a cada treino, a cada gesto, a cada conversa.
Sentimentos de apoio, de atenção total,
de cuidado, de palavras, mãos e corpo todo essenciais simulando os golpes e
movimentos perfeitos do boxe. Essenciais pois eram a sua voz e gestos os mais
valiosos guias. Um acompanhamento minucioso de professor que orienta e
transforma. De mestre que sabe todos os caminhos que levam à lona, nos ringues
e na vida.
Difícil
não ficarmos tocados com as imagens do vídeo a seguir, com Carollo, na época
com 83 anos, participando dos treinos, comandando tanto os exercícios de
aquecimento como os golpes que ele desenhava sobre o ringue com a precisão de
um Senhor Myagi das luvas. Difícil não sentirmos falta, mesmo naqueles que não
o conheceram, da simpatia que ele exalava fora do quadrado de luta, o seu
carinho de mestre que foi a estrela a conduzir tantos lutadores. Difícil não
perceber o respeito que ele tinha pelo esporte e arte que amava. Um esporte,
sim, brutal, mas que ele tornava mais humano e elegante porque sabia ensinar
com cuidado.
Difícil
não dar um vazio no peito ao descobrir que um Senhor maiúsculo assim foi embora
sem ser reverenciado e homenageado como devia.
Mas
talvez ele quisesse dessa forma. Talvez ele tenha preferido ficar escondido em
pequenos ginásios, e num esporte cada vez menos popular no Brasil e no mundo
como o boxe em tempos de MMA.
Antonio “Mickey” Carollo não parecia ser um
homem atrás dos holofotes da fama. Como toda estrela de verdade, esse treinador
contentava-se com um papel e missão
maravilhosa: iluminar o coração e a carreira de seus aprendizes. E quantos
campeões e homens ele formou com sua luzinha mágica chamada vontade e abnegação
para ensinar. Um ensino que era amor, tão transparente em cada atitude dele.
Pobre
do país que não preserva o legado de seus pequenos grandes mestres, pessoas
muitas vezes tão extraordinárias como os mais fabulosos campeões.
Obrigado,
Carollo, por nos lembrar que ensinar é algo belo, mágico e sagrado.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Messi - O assassino do óbvio
Só mesmo um gênio para colocar um efeito contrário do habitual numa cobrança de falta. Numa posição típica de um batedor destro, Messi mostrou que é possível fazer mágica com a canhotinha. E tem gente que ainda diz que ele não é gênio, que precisa provar isso numa Copa, com a seleção e blá blá blá. Messi é a fantasia semanal que nos salva da realidade esmagadoramente pobre na maioria do futebol mundial de hoje, com as exceções de seu Barcelona, de alguns lampejos do Real (sim, o mala do CR joga muito, mas gols de calcanhar como o de ontem o Doutor Sócrates fez muito mais e mais bonitos) e de Neymar.
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