quarta-feira, 27 de junho de 2012

La Bombonera


    Mesmo vazia ela já mete medo, tamanha a inclinação dos degraus das arquibancadas. Sentimos uma vertigem ao andar por ali, quase um abismo. Imagine-a então plena, lotada, incendiada de milhares de apaixonados enlouquecidos de azul e amarelo. O abismo multiplica-se pelas milhares de vozes que gritam numa sintonia tão bela quanto brutal, como se fossem uma só voz. Essa voz, multiplicada por dezenas de milhares, é o grito dominador e aterrador que desaba como aqueles degraus ultra inclinados. Desaba sobre os adversários. Na paixão da massa boquense e na razão arquitetônica de um estádio feito exatamente para isso - para projetar-se sobre o campo e soterrar os inimigos enquanto o time da casa ganha uma motivação e calor monumental.
    La Bombonera é atirada de uma vez só sobre o rival, e logo o asfixia. Paralisa. Os jogadores adversários não conseguem nem conversar, sufocados e calados pela massa, pelo estádio, pela história desse templo mítico. O templo que é fruto da maior paixão da terra das paixões mais fanáticas. Uma paixão imortal que transforma antigos deuses do clube, como Maradona, Tevez, Palermo e cia, em torcedores e forças especiais a tornar essa catedral ainda mais diabólica na hora das grandes decisões. Por isso a Bombonera é alçapão, infernalmente azul e amarelo. Mais que isso, caixão para os hipnotizados e subjugados rivais.
    Hoje, é tudo isso que o Corinthians enfrentará. Estará preparado para a fornalha um time que espera os adversários e, por isso, será ainda mais pressionado na Bombonera? Ou Tite terá coragem de mudar um pouco o seu sistema? 

sábado, 9 de junho de 2012

O gol é apenas um detalhe (de verdade)

Uma equipe de meninos, com espaço também para meninas, que não se preocupa em vencer, jogar muito bem, brilhar, vencer ou fazer gols? Um treinador que não é refém de resultados, nem pressiona suas crianças para fazer tudo para vencer? Um grupo de pais que não pressiona esse treinador ou seus filhos para ganhar? Essa utopia, os sorrisos e um dos mais verdadeiros sentimento de amor ao futebol já vistos neste mundo moderno que endeusa a competição existe num time de crianças da Catalunha, Espanha. Ali, num time que jamais havia feito um gol reside e resiste um futebol que se lembra que ainda é possível ser um jogo, uma brincadeira. Aliás, a melhor brincadeira do mundo. Ou alguém é capaz de inventar algo mais maravilhoso e divertido que uma bola de futebol real?????
Esses pequenos e pequenas catalãs ensinam ao mundo o caminho de um mundo melhor, mais saudável, bonito, gostoso. Um mundo igual a um grupo de amigos brincando de ser feliz com a bola nos pés, na canela, não importa se com habilidade ou não. Claro que essa meninada também gostaria de marcar gols e vencer, mas reparem como não há problema algum no rosto deles e delas, se eles continuarem a serem goleados. Porque no jogo mais importante, da felicidade, são esses derrotados os maiores vencedores.

*"O gol é apenas um detalhe" é a famosa frase do treinador Parreira usada para defender o estilo de jogo de suas equipes, em especial do Brasil Tetra que fazia gols, mas foi campeão. Muita eficiência, pouquíssima beleza, essa era a equação típica da seleção de Romário e Bebeto e das demais equipes treinadas por Parreira.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Segundos eternos

Por isso que poucos esportes são tão dramáticos e espetaculares como ele. Raras modalidades permitem mudanças no placar tão grandes e improváveis como o basquete. No 1o. jogo da decisão do Campeonato Espanhol, depois de ficar 17 pontos atrás, o Barcelona reagiu contra seu maior rival, o Real Madrid, mas a 10 segundos do final do jogo perdia por 2 pontos. Eis que a bola está nas mãos do brasileiro Marcelinho Huertas e ele, que não fez nenhum pontinho nos 17 minutos que esteve em quadra, inventa esse arremesso tão sensacional quanto mágico e dá a vitória ao Barça. 
Marcelinho é desde já uma lenda, eterna, do basquete barcelonista.
Só o esporte permite que um instante ou alguns segundos criem um herói inesquecível.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Pequena Gigante


1m61, a mais baixa na lista das melhores do mundo. Baixinha e incansável trabalhadora como uma legítima formiguinha. “Ela está sempre pronta para treinar mais, e quer treinar mais, tem uma disposição incomum para treinar”, diz o seu treinador. A tcheca Dominika Cibulkova sabe que precisa compensar seu tamanho muito distante das moçoilas altas que dominam o esporte. As marmanjonas e suas grandes envergaduras e ângulos mais agudos com que podem bater na bolinha, cobrem bem tanto a horizontal como a vertical das bolas adversárias. Cibulkova não tem essa vantagem mas, já que seus braços não podem voar, suas pernas podem. Coxas e panturrilhas titânicas forjadas em horas de trabalho pesado fazem ela deslizar em velocidade supersônica por todos os cantos. Chega em todas as bolas com suas perninhas fortíssimas. E há ainda sua garra de trator arando a terra para a colheita. Só contasse com sua raça e esta guerreira já seria um páreo duríssimo para qualquer uma, mas ela ainda conta com a dádiva de ter um dom: é também técnica, capaz de colocar os mais venenosos e belos efeitos na sua raquete e bolinha. Assim ela não deu chances para a número 1 do mundo, a bielorrussa Vitória Azarenko no domingo pela manhã. Um domingo que amanheceu com a beleza de sai determinação, velocidade e técnica incomum. E avançou na manhã brasileira com um final maravilhoso como seu sorriso vencedor. O sorriso que só deu após superar os traumas de várias derrotas para a número 1 meses antes. O sorriso da menor melhor tenista do mundo.
*Dominika é tão corajosa que faz diferente da grande maioria das tenistas do leste europeu. Não deixou seu país para encontrar mais apoio e investimentos nos EUA. Ela segue vivendo, treinando e lutando em seu próprio país, na cidade de Bratislava.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Um pouco mais de alma


  Quando a batalha aperta, é preciso convocar os melhores, na bola e coração. O momento é decisivo, o Santos corre sérios riscos de dar adeus à Libertadores contra o impenetrável Velez Sarsfield argentino. Muricy olha então para o banco e é fulminado com os olhos faiscantes do velho guerreiro jamais cansado de guerra. 
     O treinador não vacila e saca o hábil mas escondido – guerra não é seu forte – Juan. Não é uma simples substituição mas a redenção desse verdadeiro coquetel molotov de técnica com toneladas de garra. Mais que isso, o viking habilidoso que entra é o resgate também do quase extinto amor à camisa e da alma perdida dessa grande porção de jogadores do futebol de hoje que não deixam a pele e o sangue em campo. O redentor e guardião do futebol que aprendemos a amar quando crianças chama-se Léo. Ele entra correndo feito um louco e semeando seus olhos esbugalhados de quem é raça pura; a beleza pura de quem encara sua profissão com a mesma vontade e sentimento do garoto que encara sua primeira final de campeonato da escola como o jogo da vida. Sai o mero profissional e entra o homem apaixonado, alucinado em busca do resultado que seu time de tantos anos precisa alcançar.
    Não é um acaso quando uma batalha como essa é decidida pelo amor. Se o gênio Neymar ou o craque Ganso não estão decidindo, chamem o guerreiro. Chamar é pouco, convoquem-no! A beleza dessa vida é que o amor e a alma embalados por uma raça monumental ainda são decisivos.
    O significado da assistência de Léo para Allan Kardec recolocar o Santos na briga foi talvez o símbolo mais belo do futebol deste ano. Do futebol que sempre deveria se jogado assim, com essa paixão incandescente.