quarta-feira, 9 de junho de 2010

O futebol é uma mulher a ser cortejada e conquistada


O que é fazer um belo gol, chutando forte e colocado, senão fazer amor com a mulher amada?
O que é a bola senão a companheira e amante?
O que é o futebol bonito senão a arte de namorar a bola e brincar com ela na região vital, o meio-campo?
O meio de campo que é o corpo da amada. É preciso tocá-lo, explorá-lo. É preciso percorrer seus espaços com suavidade e pressão exata; arte, beleza e paixão, ora de forma cadenciada, ora com mais velocidade.
Os melhores meio-campistas são aqueles que amam o toque de bola como se fossem amantes a procurar e tocar cada pedacinho e recôndito de uma bela e incandescente mulher.
Graças a Dunga, o Brasil não tem esse tipo de jogador. Porque Dunga vê a faixa central do gramado apenas como um espaço de passagem para a única jogada de sua seleção, o contra-ataque. Isso é ainda mais claro no seu camisa 10, um corredor elegante e refinado chamado Kaká, mas um corredor, um ótimo jogador mas que não é craque nem um grande amante da bola.
Amantes encontramos na Argentina, no formidável Verón; na Espanha, em Xavi e Iniesta; e na Holanda, nos seus meias apaixonados pelas tabelas rápidas. Essas são as três seleções que mais se aproximam do que um dia foi o verdadeiro futebol brasileiro, aquele baseado em arte.
Aquele que vejo, por exemplo, não apenas no óbvio Ganso mas também no menino Marlos, do meu São Paulo. Sim, ele é um meia avançadíssimo, mas como é bonito ver suas arrancadas rasgando as defesas adversárias em suas corridas. Sim, é um corredor, como Kaká, mas Marlos é também o que o Bonzinho não é: um driblador.
Não, não peço Marlos na seleção. Só digo que vê-lo jogar junto de Hernanes é uma experiência muito mais bela e emocionante que ver os brucutus que povoam o meio-campo-trincheira de Dunga.
A Copa vai começar e já tenho saudade do meu time. Simplesmente porque o São Paulo de Hernanes, Marlos e Fernandão joga o futebol brasileiro em que sempre acreditei. O futebol que os meninos do Santos ofereceram no primeiro semestre.
O futebol jogado para possuir o gol e arrebatar a rede como o homem que se torna um só junto da mulher em algo incomparável chamado “fazer amor”.
Make Love, not war. Faça amor, não faça guerra. Dunga jamais entenderia o hino hippie que é também o segredo do futebol arte, aquele que pode arrebatar e vencer.
Sem hipocrisias, sempre torci pelo futebol mais bonito em uma Copa do Mundo (e, claro, pelos mais fracos contra os mais fortes). Por isso que o hexa com Dunga será um grande mal para quem acredita em dribles, gols e fantasia.
Mil vezes a derrota do futebol arte encantador que a vitória do pragmatismo covarde de um treinador falsamente guerreiro.
* Preciso explicar porque esses gols da Espanha, especialmente o segundo, ilustram esse texto?

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